Marrocos

Todos sabem que estivemos no Marrocos por bom tempo de Outubro de 2014.
Realmente uma experiência incrível que tanto quero compartilhar como fazer o que eu puder para, com o turismo, ajudar os povos Nômades do Deserto, que tanto sofrem e necessitam de nossa presença , pois somente desta maneira podem ser compreendidos e vistos .
Suas crianças precisam estudo, alimentos e trabalho .

Com base nisto meu grande amigo Nômade, pessoa que nos apresentou uma cultura totalmente nova e emocionante , mandou-me um pedacinho de sua história .
Aproveito a colocar-me à disposição para ajudar você ir ao Marrocos.
www.valeriafoz.com.br

Mohamed Amraoui: Uma criança do deserto do Saara, em Marrocos

Nasci em uma família grande, e nômade! Mudávamos pelo deserto o tempo todo, inúmeras vezes…e cada um tinha uma função no acampamento. Enquanto as mulheres se revezavam nos afazeres, preparando as refeições, cuidando das crianças e andando montadas em burros cerca de 25km até o rio, onde procuravam madeira para cozinhar e aquecer a todos, além de água fresca, os homens usavam ovelhas e camelos para procurar alimentos e bebidas pelo deserto. Como eu gostava destes animais. Brincava com eles, eram meus amigos.
Após os homens chegarem dos seus afazeres, cuidávamos dos animais e em seguida toda a família se reunia em torno de uma fogueira, em círculo. Ali celebrávamos o dia. Todos eram considerados iguais (por isso o círculo), e naquele momento catávamos canções berberes e tocávamos tambores. As canções falavam sobre a vida. Primeiro os homens cantavam, e em seguida as mulheres respondiam. Era uma vida tão feliz…em alguns momentos tudo o que queríamos era subir as dunas e contar histórias sobre a vida, olhando para as estrelas até dormir.
A família sempre foi muito valiosa para nós. Meu avô era o mais importante. Ele nunca frequentou uma escola, mas estudou e aprendeu sozinho o idioma árabe. Tínhamos duas tendas – uma para a cozinha e outra para a família (meus avós, meus pais, nove tias e irmãos do meu pai). Sempre ajudamos uns aos outros. Desde crianças já tínhamos nossas responsabilidades…as meninas desde cedo já ajudavam as mulheres, e os meninos, quando completavam quatro anos, saiam com os homens em busca de plantas para chás medicinais e minerais. Procurávamos nos buracos profundos deixados pelos fanceses em 1956.


Nossos pais foram quem nos deram educação. Nossas mães nos ensinaram a língua berbere, e nossos pais nos ensinaram, por exemplo, a fazer somente o bem. Não sabíamos fazer coisas ruins, pois não tinhamos maus exemplos a seguir…

Meus avôs que ficavam comigo quando eu era criança, enquanto meus pais cumpriam seus afazeres. Toda noite eu gostava de colocar minha cabeça no colo da minha avó, e ali adormecer enquanto ela me contava histórias sobre sua infância, seus pais e sua vida nômade. Ela contava das suas viagens, de quando era jovem…era tão bom !
Lembro-me também de um dia, quando eu era um jovem garoto, em que peguei leite, tâmaras e água, para manter-me alimentados, e leveis os camelos até o deserto para se alimentarem. Era meio-dia quando olhei para cima e vi, ainda distante, uma grande tempestade de areia. O mundo parecia ter ficado preto naquele momento, e eu me senti totalmente perdido. Não via nada a minha frente. Juntei os camelos em circulo e fiquei no centro deles, esperando aquela tempestade passar, mas ela durou até o outro dia de manhã. Foi então que eu descobri que estava a cerca de 500 metros do nosso acampamento.

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Não tinhamos calendário para registrar eventos. Um nascimento ou morte poderia ser recordado como o dia da grande chuva e inundações, ou talvez o dia em que o céu estava escuro devido a mais uma tempestade de areia. Os eventos naturais marcavam os acontecimentos importantes… a natureza estava sempre presente em nossos dias.
Minha família foi a primeira a vir para Merzouga, uma cidade nova que tinha um grande lago com água em abundância para os nossos animais. Era um rio muito agradável…uma cidade perfeita para pessoas e animais. Viemos porque a família decidiu que as crianças precisavam ir à escola. Foi então que percebram que era preciso papéis para registrar nascimentos. Me levaram para Taous, escritório do governo da comunidade. Deram-me uma data de nascimento : 12 de novembro de 1986. Esse foi o dia em que estive lá pela primeira vez. Se eu tivesse irmãos e irmãs, provavelmente todos teríamos o mesmo aniversário. Eu era maior do que as outras crianças na escola e sabia que era mais velho do que elas.
Mas foi a partir daquele momento que minha vida mudou. Aprendi que havia outros idiomas além do Berber. Estudei árabe por dois anos e, em seguida, francês durante seis anos. Árabe e berbere são muito diferentes. Um se lê da direita para a esquerda, o outro da esquerda para a direita. Comecei a estudar e descobri um grande amor no mundo e na vida. Sabia desde o começo que ajudaria a cuidar do mundo devido a minha educação Beber. Quando comecei o ensino médio, aprendi também o inglês. Minha escola secundária estava em Rissani e era necessário saber inglês para viver em uma casa de embarque. Meu pai me visitava nos finais de semana e sempre queria me dar dinheiro. Eu até poderia ter aceitado, mas sempre neguei. Eu estava bem.

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A história da cidade que escolhemos para morar é muito interessante também. Merzouga é a casa das maiores dunas do Norte da África, o Erg Chebbi. Quando uma família rica se recusou hospitalidade a uma pobre mulher e seu filho, Deus ficou muito ofendido e os sepultou debaixo dos montes de areia. E assim surgiu a lenda das dunas. Fiquei animado quando aprendi isso e queria compartilhar esta informação com outras pessoas. Escrevi dois livros sobre a cultura berbere, tradições, poemas e poesia. Entrevistei várias famílias, que puderam compartilham seus conhecimentos.
Com 16 anos terminei a escola secundária e em 2009 eu tinha o meu diploma da Universidade com os estudos em árabe e Literatura. Comecei então a compartilhar meu conhecimento com os turistas. Queria que todos conhecessem Marrocos, que chamo de casa e que amo. Queria compartilhar as diferentes culturas dos berberes nas montanhas, no deserto, e até mesmo aquelas das cidades.
Os berberes são os povos originários do norte da África. Suas terras se estendiam desde o Oásis de Siwa, no Egito, até Marrocos, Argélia, Líbia, Tunísia, Mali, Ilhas Canárias, Chade e Níger. No século XII, Berber eram um povo muito nobre e solidário, que vivia junto muito antes dos árabes. Seu líder era rainha Dahia. Os berberes são uma mistura de cristãos, judeus e não-crentes que viveram em paz uns com os outros, todos respeitando suas diferenças. Sua crença era que a religião era vertical e horizontal. Vertical foi direto a Deus. O aspecto horizontal é de pessoa para pessoa.

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Quando os árabes chegaram no século XII, tentaram destruir todas as religiões dos berberes. Depois de seis anos sem sucesso foram embora, mas logo voltaram com falsas promessas e conseguiram o que queriam.
Mohamed Amraoui é um nômade, nascido e criado no deserto de Sahara de Marrocos. Ele ama o deserto e ama o seu país. Tudo o que ele quer é que o mundo conheça Marrocos como ele conhece. Quer que todos vejam as muitas faces de Marrocos, assim como a diversidade cultural.

Nasci em uma família grande, e nômade! Mudávamos pelo deserto o tempo todo, inúmeras vezes…e cada um tinha uma função no acampamento. Enquanto as mulheres se revezavam nos afazeres, preparando as refeições, cuidando das crianças e andando montadas em burros cerca de 25km até o rio, onde procuravam madeira para cozinhar e aquecer a todos, além de água fresca, os homens usavam ovelhas e camelos para procurar alimentos e bebidas pelo deserto. Como eu gostava destes animais. Brincava com..

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